domingo, 16 de setembro de 2007

Que dia é hoje?

(Texto das antigas...)

Hoje eu me peguei em profunda introspecção. Perdi a noção de tempo e espaço. Até que me senti um tanto quanto livre. Contudo, alguns teimavam em me escravizar, roubar meu momento tão particular. Logo vieram a perguntar sobre um trabalho para quarta-feira, quando iríamos nos reunir, em que local e hora, etc., etc.. A maior parte dessas perguntas era uma incógnita para mim. Comecei a pensar se essas pessoas as quais faziam tais perguntas estavam querendo me prender ou estavam muito mais perdidas do que eu e visualizavam, por algum motivo, em mim, uma fonte segura que os colocariam ou os situariam de modo conveniente e confiável à realidade.

Discretamente eu os perguntava: - Desculpe, mas que dia da semana é hoje? Pronto, aos poucos eu voltava ao normal, isto é, à participação passiva/ativa nessa vida mundana, a essa prisão. Eles conseguiram mais uma vez. Em seguida tive um surto, acabara de esquecer em que dia estávamos. Ó memória! Aliás, nós temos memória? Bom, esquece isso. Não tem nada a ver com o que estou a relatar. Permita-me que eu volte a meu raciocínio antes que eu me esqueça. Pois bem, lá estava eu, perdido, totalmente desorientado. Acho que a culpa disso é toda minha. Não dei a devida atenção àquelas pobres pessoas que tiveram a boa vontade em me ajudar. Inclusive até me disseram em que dia estávamos e nem dei moral. Quanta gratidão! Será mesmo quarta, hoje? Para mim, tudo o que eles tentavam me convencer, era fruto da artificialidade humana, portanto é apenas uma interpretação, um simbolismo passível de erro sobre a realidade. Não quis aceitar aquelas verdades (datas, e dias da semana) na expectativa de não abdicar qualquer outra interpretação que alguém pudesse posteriormente me dizer.

Mas precisava saber que dia é hoje, afinal de contas o trabalho de quarta martirizava meus colegas. De tudo o que me perguntaram nada ficou, a não ser uma sensação de que algo devia ser cumprido. Essa sensação foi a única coisa que pude “lembrar”, talvez por ser o sentimento uma das superficialidades mais humanas, mais intrínsecas, mais fundamentais consegui reter isso em meio à confusão de meus pensamentos. Naquele momento parecia que não era eu quem respondia. Minha linguagem era tão difusa, sem nexo algum. A linguagem verbal dos outros talvez não tivesse tanta penetração em minhas reflexões internas quanto a sutil impressão de medo, de incerteza quanto ao tal trabalho. Talvez, fiz mesmo foi me identificar com a agonia deles, pois sequer sabia que dia é hoje. Ou seja, a incerteza que eu tinha dentro de mim poderia estar feliz em ter encontrado um novo amigo, um novo partidário – quem sabe o “incerto”.

Dessa maneira teria agora um ponto de apoio, um ponto de partida para começar a pensar tudo novamente. A incerteza das datas, mas não só destas, me fizeram questionar todo o resto que refletira já há dias. O mais plausível seria refletir primeiramente sobre o espaço e o tempo. Mesmo que isso significasse desconsiderar todas as outras observações feitas antes. Finalmente decidi tomar uma atitude, então imediatamente e abruptamente indaguei o seguinte ao primeiro indivíduo que percebi à minha volta: - Que dia da semana é hoje mesmo? Perplexo com minha estranha e inesperada pergunta, ele pensou por alguns instantes e respondeu: - Hoje é quinta-feira!

Não queria ser interpretado como um doido. Ora, deixei meu mundo de falsa liberdade para começar uma nova vida, sem mais aquelas oníricas (in)certezas. Logo agi a fim de consertar dizendo a um outro colega: - Nossa! Esse conceito de tempo e espaço criado por nós é uma questão bem intrigante, não? Acho que consegui me sair bem depois dessa dura revelação. Hoje é quinta! Calma aí... Mas que dia do mês estamos? Não, é melhor não forçar a barra. O que interessa é que amanhã é sexta e daqui a seis dias tem um trabalho para entregar. Meu ponto de partida é a quinta. Quinta quina, quem dera, quimera... Agora é só deixar que o resto vá se ajeitando.

Alguma-feira,
Allex Bandeira