quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Tudo é comércio − Você quer quanto para ler este texto?

As pessoas compram e vendem de tudo. É sapato, concha, jornal, pedra, órgãos. Enfim, vendem inclusive o conhecimento e até mesmo o tempo. O homem está tão viciado que até com o santo ele também faz negócios. Pede para o santo a realização de um desejo e promete pagar-lhe, caso ele o realize. Alguns mais exaltadinhos já afirmariam aqui, logo de cara, que certas religiões também incorporaram essa idéia comerciante, pois estão trocando milagres pelo dinheiro de seus fiéis.

Bom, nota-se que há fundamentalmente uma relação de troca em todas essas instâncias. Para ficar mais fácil de entender, podemos fazer uma analogia com a comercialização de produtos. Isto é, pouco importa atualmente suas funcionalidades, para que ele serve etc. O que importa é concretização da compra e da venda, não há mais necessidade daquele diálogo com o vendedor para saber pra que o produto serve ou como usá-lo. Alguns nem sabem por que estão comprando. O negócio é comprar. Hoje, esse ato superou a utilidade prática do produto em si.

O que importa é a compra e a venda. Nada mais que isso. Por exemplo, há várias pessoas que compram celulares sem sequer saber suas funções. Tem-se que comprar, porque tudo mundo compra e ponto final. Bom, a grande maioria das reclamações no PROCOM, pra você ter uma idéia, é, por incrível que pareça, resultado do mau uso desses aparelhos e não porque o celular está com problemas. Ninguém lê mesmo os manuais. Por que eles ainda existem? Não sei por qual motivo a indústria ainda insiste em gastar dinheiro com essas coisas. Os produtos ficariam mais baratos, sem dúvida.

Então, por que é tão importante assim espalhar uma ideologia? Já parou pra pensar nisso? Ora, a melhor resposta é porque as idéias não operam no vácuo. Elas precisam de mentes e corpos nos quais podem existir. Elas precisam de pessoas para propagar essas idéias (o capitalismo, o socialismo e até a minha própria análise de que tudo é comércio não existiria sem cabeças pensantes). Quanto mais gente tiver, tanto maior será a influência e poder, logo elas poderão crescer mais e mais. A televisão está por aí cumprindo seu papel social de propagar idéias e valores, e de emburrecer as pessoas.

Nesta sociedade temos tendência a considerar que o prazer individual e imediato é a finalidade da vida. Seremos felizes se e somente se consumirmos. Por favor, não vá contra a essa idéia. Isso pode causar muito sofrimento. E você não quer isso pra sua vida, não é? Contra a subjetividade dos homens ergue-se a objetividade do mundo feito pelo homem e para o homem. Somos coisas, coisamente. Até quando essas artificialidades se sustentarão? “É doce estar na moda, ainda que a moda seja negar minha identidade, trocá-la por mil, açambarcando todas as marcas registradas, todos os logotipos de mercado.”, já dizia o saudoso Drummond. Enquanto isso, eu estou aqui sem dinheiro no bolso. Desculpe mas hoje não vai dar pra te pagar pela leitura, tá?

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